CINCO MOTIVOS PARA LER BUCHI EMECHETA

CINCO MOTIVOS PARA LER BUCHI EMECHETA

Buchi Emecheta foi uma das melhores descobertas literárias que fiz nos últimos tempos. Seus livros tratam de temas fortes com muito lirismo e ao mesmo tempo, muita agilidade. É começar a ler e você não vai querer parar! Sua escrita autobiográfica funciona também como um panorama histórico das mazelas sofridas pelas mulheres com o neocolonialismo ocorrido nos países africanos entre os séculos XIX e XX. Listei, abaixo, cinco dos principais motivos pelos quais eu considero que você precisa ler Buchi Emecheta AGORA MESMO!

 

Leia também: Quem foi Buchi Emecheta, por blog da TAG Livros

 

1) Você vai conhecer uma nova cultura, semelhante à nossa em alguns aspectos: com a narrativa ágil e habilidosa de Buchi Emecheta você vai conhecer a Nigéria do século XX e os efeitos da colonização britânica sob o povo daquele país. Vai ler sobre os povos Igbos e Iorubá, este último origem de boa parte da população negra do Brasil.

 

“As crianças, em especial as meninas, aprendiam a ser muito úteis desde bem cedo na vida, e isso tinha suas vantagens. Por exemplo, Adah aprendeu bastante jovem a ser responsável por si mesma. Ninguém estava interessado nela quanto pessoa, somente no dinheiro que ela poderia obter e nos trabalhos domésticos que era capaz de realizar, e Adah, feliz por receber essa oportunidade de sobrevivência, não desperdiçava seu tempo refletindo sobre os acertos e erros do assunto. O importante era sobreviver.” (Cidadã de segunda classe, p. 29)

 

2) Vai entender o conceito de assimilação: talvez você já tenha se questionado sobre a “facilidade” que as nações imperialistas tiveram ao invadir e colonizar vários países do continente africano entre os séculos XIX e XX. Como se esse processo fosse realmente o destino, o fardo do homem brancolevar a civilização ao povos atrasados”. O que pode parecer facilidade, na verdade foi violência simbólica (somada à tradicional, de morte). No contexto de uma sociedade de classes, era prática comum dos colonialistas angariar o apoio da burguesia e da classe média local, tratando-os como iguais. O assimilado era, portanto, o colonizado que rejeitava sua própria cultura em prol de uma cultura superior, em que ele, diferente dos demais compatriotas, pretensamente fazia parte.

 

” ‘Sempre gosto do seu povo, vocês são sempre muito sinceros. Tive uma amiga nigeriana uma vez; ela tinha seis filhos e a gente costumava ir à missa na mesma igreja. Ela era simpática, assim como você. Ela costumava me dizer para não dar bola para o que as pessoas diziam sobre meus filhos.’

Por que todo mundo sempre avaliava uma pessoa negra a partir da maneira que outra pessoa negra tinha se comportado? Nunca ocorria a pessoas como a senhora O’Brien que outras mulheres negras pudessem ter vindo da Cidade do Cabo, enquanto Adah do Cabo Horn. Ou, ainda, de Trinidad, Boston ou mesmo Liverpool ou Cardiff.” (No fundo do poço, p. 69)

 

3) Vai ler sobre temas importantes como racismo, machismo, xenofobia e violência doméstica: precisa falar mais? Temas extremamente atuais, seja na Nigéria, qualquer outro país da África ou aqui mesmo, no Brasil (isso falando só de uma parte da galera que foi colonizada). A literatura nos humaniza, desenvolve nossa capacidade de sentir empatia. Não podemos fugir desses assuntos, precisamos aprender, entender, mudar nem que seja a realidade do nosso grupinho de convívio. Já é melhor do que não fazer absolutamente nada.

 

4) Vai fazer você refletir sobre assistência social: um dos temas mais fortes, para mim, em O fundo do poço (sequência de Cidadã de segunda classe), foi o assistencialismo. Óbvio que temos que levar em consideração que, em primeiro lugar, trata-se de um livro de ficção. Depois, que a narrativa é sobre outra época, outro país (Inglaterra). Mas é impossível não fazer comparações em relação ao Brasil e  perceber que nem sempre existe um projeto de “próxima fase” na assistência social, de ajudar a pessoa a se reerguer. E um dos responsáveis por este gargalo é, adivinhem: o excesso de burocracia e um pouco de comodismo por parte do governo. O mais importante desse tema é que talvez ele faça com que os leitores tenham um novo olhar em relação aos usuários de programas sociais, vendo-os como pessoas que, simplesmente, precisam de ajuda por algum tempo. Não só financeira, mas especialmente desse tipo, porque comida e abrigo custam dinheiro. Mas talvez eu esteja sendo otimista demais (espero que não).

 

“Alguns pais, em especial os que têm muitos filhos de diferentes esposas, podem rejeitar um mau filho, um amo pode rejeitar um criado perverso, uma esposa pode chegar ao ponto de abandonar um mau marido, mas uma mãe nunca, nunca pode rejeitar seu filho. Se ele for condenado, ela será condenada ao lado dele…”(As alegrias da maternidade, p. 295)

 

5) Vai fazer com que você tenha um olhar mais carinhoso em relação às mães (assim espero): As alegrias da maternidade, caso você não conheça ou não tenha percebido ainda, é um título bastante irônico. Este foi o primeiro livro de Buchi Emecheta publicado no Brasil e eu sugiro fortemente que você comece por ele. Aqui você vai entender que ser mãe dói, e essa é uma dor ancestral.
Você encontra os livros de Buchi Emecheta na Amazon ou diretamente na loja da Editora Dublinense (tem um kit bem bacana, vale a pena comprar da editora). Recentemente a Dublinense anunciou a publicação de mais um livro de Emecheta em terras brasileiras aqui neste post. Quanto mais literatura africana, quanto mais Buchi, melhor!
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