“Pior que ex, amigos”: Persuasão, da Netflix, é uma bela de uma fanfic!
Persuasão é a história mais romântica de Jane Austen. Publicado originalmente em 1818, quando a autora já havia falecido, o livro fala sobre o arrependimento de Anne Elliot por ter sido persuadida a romper o seu compromisso com Frederick Wentworth, um membro da marinha britânica sem dinheiro ou conexões relevantes. Oito anos depois do rompimento, a família de Anne está afundada em dívidas e Frederick retorna do mar enriquecido e disposto a se casar com uma mulher firme em suas próprias opiniões.
Nessa última sexta-feira, 15, a Netflix lançou Persuasão, com Dakota Johnson como Anne Elliot e um elenco maravilhosamente diverso. Último dia letivo antes do recesso, aproveitei para assistir ao filme ainda fresquinho na plataforma, sem ler outras críticas se não algumas que foram escritas antes do lançamento oficial.
Atenção: o texto a seguir pode conter spoilers!
As jainetes mais exigentes, que gostam de ver na tela tintim por tintim tudo exatamente como escrito no livro podem se decepcionar com esta adaptação: Persuasão, da netflix, é uma bela de uma fanfic!
O drama americano baseado no romance de Jane Austen, com roteiro de Ron Bass e Alice Victoria Winslow e direção de Carrie Cracknell, nos apresenta uma Anne mais solta, um tantinho atrapalhada e que quebra a quarta parede com uma frequência um pouco cansativa. Mas logo nos apegamos a essa nova Anne: é como se ela fosse uma amiga querida na maior fossa (há 8 anos!).
Em questão de figurino, precisão histórica, de linguagem e comportamento, esqueça: como toda boa fanfic, aqui temos uma releitura mais descompromissada, com ares de romance de época. O roteiro é todo bem facilitado, explicadinho, e muitas liberdades são tomadas. Persuasão tem diálogos mais diretos e até um pouco picantes. Nossa Anne é bem fã de álcool, é mais língua solta que a original e um pouco desleixada nos modos. Como se fosse uma adaptação moderna em trajes antigos, ou uma insistente tentativa de mesclar Elizabeth Bennet nas outras mocinhas de Austen que vão para as telas.
Gostei da escolha dos atores, especialmente o núcleo de Uppercross, todo negro. Lady Russell também é negra nessa adaptação. Tem sido muito bom ver diversidade nas telas, atores negros em papéis relevantes em tramas ambientadas em séculos passados. É sempre bom ressaltar que a história original é sim, de 1818. Mas o filme está sendo feito hoje, para expectadores de hoje. Como todo (bom) produto cultural, precisa acompanhar os costumes da sociedade que vai consumi-lo.
Para mim, ler e ver Persuasão é sempre um deleite. Sendo muito fiel ao livro ou nem tanto assim. Que bom que Jane Austen nos deixou modelos tão maravilhosos de romance para fazermos quantas releituras nossa imaginação permitir. Até euzinha, vocês sabem, fanfiquei Persuasão. A minha Anne é mineira, e você pode ler a história inteirinha, se quiser, clicando aqui.
O filme da Netflix vale a pena, mas veja-o com o coração aberto. Tem a carta inteirinha, romance de aquecer o coração, uma trilha sonora de suspirar e algumas mudanças bem-vindas na narrativa. É um bom filme. As fãs fanfiqueiras, sobretudo, vão amar.
Eu sempre vejo pelo lado que quem não leu e quem sabe gostar do filme vai com certeza querer comprar para ler o livro, então teremos mais gente que vai conhecer a autora e isso sim é importante. Pelo menos eu acho que essa é a ideia de adaptações, trazer novos públicos, mais diversos, as vezes até mais jovem que não conhecia…todo mundo começa lendo clássicos??? claro que não né?…mesmo quando eu não gosto da adaptação eu tenho essa ideia na cabeça..
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