“QUE OS OLHOS FALEM, FALEM SEMPRE”: LÚCIO CARDOSO
Lúcio Cardoso é daqueles escritores brasileiros os quais você pesquisa um pouco sobre a vida e a trajetória artística e fica surpreso por praticamente nunca ter ouvido falar dele em lugar nenhum. Mineiro da cidade de Curvelo, Cardoso foi escritor, poeta, artista plástico, dramaturgo e tradutor de grandes obras da literatura.
De minha parte, o conhecia como o primeiro tradutor do romance “Orgulho e Preconceito”, de Jane Austen, para o português/BR, pela José Olympio (1940). Mas Lúcio Cardoso tem uma produção literária autoral bastante numerosa, em que se destaca, na visão de muitos críticos, o título “Crônica da casa assassinada”, em nova edição publicada recentemente pela Companhia das Letras.
Sinopse: “Obra-prima de um dos principais escritores brasileiros, o livro conta a história do clã dos Meneses através de diferentes narradores, que se enfrentam e se contradizem, mas que constroem com maestria um retrato profundo da vida familiar.
Livro responsável por abalar o meio literário brasileiro quando publicado pela primeira vez em 1959, Crônica da casa assassinada conta a história de uma família em decadência: cada geração se vê mais pobre que a anterior, dilapidando o patrimônio para sobreviver. Os Meneses, porém, continuam sendo respeitados na pequena comunidade mineira em que vivem. A Chácara, a grande casa que gera orgulho mas também aprisiona, é vista com reverência e desconfiança por todos que conhecem o clã.
Contudo, a chegada de Nina ― jovem carioca que se muda após se casar com Valdo, o irmão do meio ― vai abalar a relação difícil que se estabelece entre os irmãos. Demétrio, o mais velho, tem na esposa Ana uma arma sutil; Timóteo, o mais novo, se embrenha cada vez mais na própria decadência quando passa a viver trancado num quarto. “A matriarca da casa é a própria casa”, diz Chico Felitti no prefácio desta edição. “Suas alamedas são veias que irrigam o coração que é a casa-grande.”
Fantasmagórico, envolvente e extremamente brutal, Crônica da casa assassinada utiliza a pluralidade de vozes narrativas para explorar os limites do desejo e da submissão.
“O dom poético, o dom de criar vida, atmosfera, de armar os lances imprevisíveis e patéticos do destino. Na Crônica da casa assassinada culminou essa força demiúrgica de Lúcio.” ― Manuel Bandeira.”
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Lúcio Cardoso faleceu em 1968, vitima de um segundo AVC. Foi um dos primeiros artistas de destaque no Brasil (de que se tem nota) a assumir publicamente a sua homossexualidade. Talvez seja essa a razão do “apagamento” de suas obras nas décadas posteriores ao seu falecimento. “Crônica da casa assassinada” é um importante (re)lançamento que nos ajudará a reparar um pouco esse lapso, colocando o autor novamente em evidência e nos permitindo desfrutar de sua literatura.
Veja mais: Documentário Lúcio Cardoso, com direção e roteiro de Eliane Terra e Karla Holanda
Depoimentos de Rachel de Queiroz, Lêdo Ivo, Antônio Carlos Villaça, Maria Alice Barroso, Paulo César Saraceni, Luiz Carlos Lacerda, Maria Helena Cardoso, Nelson Dantas.
Elenco: Buza Ferraz.
Fotografia e Edição: Eliane Terra
Produção: Eliane Terra, Karla Holanda, Dalvina Barbosa e Fátima Leal
Consultoria literária: André Seffrin
Leia algumas poesias de Lúcio Cardoso, incluindo a lindíssima Receita de homem, que inspirou o título desse post, clicando aqui.