[RESENHA] A LEITORA INCOMUM, DE VIRGINIA WOOLF
Sinopse: “Os cinco ensaios reunidos neste livro foram escritos entre 1919 e 1929 e publicados em suplementos e revistas literárias. Os textos mostram que além de ser uma ficcionista, Woolf era uma leitora muito atenta, com perspicaz senso crítico. A compreensão que ela tem do leitor, da leitura e do ofício de escrever explicam o porquê ela ser uma das escritoras mais importantes do século XX, responsável por técnicas como a do fluxo de consciência, por cenas cinemáticas e as digressões que adentram as camadas da narrativa. Além do profundo conhecimento da Virginia sobre o tema é preciso falar do cuidado com a tradução, que opta por manter o ritmo da escrita tão peculiar da Woolf. Como explicitado no famoso ensaio Um teto todo seu, mesmo sendo de uma família aristocrata, Virginia Woolf não teve permissão de frequentar a universidade, dessa forma fazendo de sua escrita não apenas uma escolha estética, mas acima de tudo de autonomia e política, de forma que não se parecesse em quase nada com a escrita de outros autores e ainda assim fosse profundamente certeira e bem escrita. Todos os textos desta coletânea fazem parte do livro Granite and Rainbow organizado por Leonard Woolf e publicado em 1958. Sobre o título, A Leitora Incomum, ele remete ao livro de ensaios que a própria Virginia organizou e publicou chamado O Leitor Comum. O livro faz parte da Coleção Alfaiate, costurados a mão e com capa em serigrafia sobre tecido montados um a um.”
Em se tratando de Virginia Woolf, sou do tipo leitora mineira: estou lendo pelas beiradas. Há quem se surpreenda quando eu digo, mas, até o momento, não li nenhum dos romances da autora (nem Mrs. Dalloway!). Woolf me conquistou e continua me conquistando, sobretudo, por seus magníficos ensaios. Um dia desses eu mergulho nos romances, certamente o farei, mas tenho certeza de que já li o suficiente da escritora inglesa para admirar a sua inteligência e virar sua fã de carteirinha.
Leia também: Cenas londrinas, Profissões para mulheres e outros artigos feministas, Um teto todo seu e O sol e o peixe.
O livro A Leitora Incomum (Arte e Letra, 2017), reunião de ensaios de Virginia Woolf traduzidos por Emanuela Siqueira, é um livro especial como não se vê com tanta frequência quanto seria incrível na lista de lançamento das editoras brasileiras. Explico: somos inundados quase mensalmente por lançamentos de luxo, com ilustrações, planejamento gráfico que parecem de outro mundo de tão perfeitos etc. (e graças a Deus por isso), mas poucas vezes vi um livro pelo qual as pessoas, inclusive não leitoras, ficassem admiradas com o delicado trabalho visivelmente aplicado no material ali impresso. A edição da Arte e Letra, além do ótimo conteúdo, nos presenteia com aquele gostinho de livro artesanal, um verdadeiro deleite para nós, leitores. A capa é de pano e, mesmo sabendo disso no ato da compra, fiquei admirada ao sentir o livro em minhas mãos. É uma capa dura revestida com um pano no qual a capa foi impressa! Os livros são costurados a mão, montados um a um e os exemplares, numerados. O meu é o 204.
Artesanato tem algo de especial que é difícil de definir. Cada produto é único, embora sejam produzidos vários exemplares, pois carrega um pouco da essência de quem o produziu. Se o produto livro já é algo especial, imagina uma tiragem em que todos os livros, além do processo coletivo e trabalhoso que envolve uma publicação, têm a mão de uma pessoa que não pode ser outra coisa, senão um apaixonado por literatura?
Sobre os ensaios, são cinco os presentes nesta edição: Horas na biblioteca, A anatomia da ficção, A vida e o romancista, Uma mente implacavelmente sensível e Fases da ficção. Cada um deles mostra a faceta leitora e crítica literária de Virginia Woolf, mas da forma apaixonada de quem teve a literatura como mais que uma profissão, um compromisso. Destaque para Fases da ficção, que aumentou consideravelmente a minha lista de leitura de romances clássicos e Uma mente implacavelmente sensível, que fala sobre Katherine Mansfield, outra escritora maravilhosa, a qual vale muito a pena conhecer e ler.
“Os contistas mais notáveis da Inglaterra estão de acordo, diz o Sr. Murry, que como escritora, Katherine Mansfield era ‘hours concours’. Ninguém a sucedeu e nenhum crítico esteve apto a definir suas qualidades. Mas o leitor de seu diário está bastante satisfeito em deixar tais questões de lado. Não é a qualidade de sua escrita ou o grau de sua fama que nos interessa no diário, mas o espetáculo de uma mente — uma mente implacavelmente sensível — recebendo, uma atrás da outra, impressões aleatórias de oito anos de vida.” (p. 39)
A Arte e Letra é uma editora, que também é cafeteria e livraria, não necessariamente nesta ordem. Mesmo sem conhecer diretamente, mas como apaixonada por livros e literatura, só posso agradecer por um lugar como esse existir no nosso país. E por produzirem livros tão maravilhosos, que podem ser enviados pelos correios para quem não está em Curitiba para comprar na livraria, tomando um cafezinho.
Conheça a Arte e Letra: https://www.arteeletra.com.br/
Esta resenha foi recomendada na campanha da editora educativa Twinkl sobre a importância das mulheres na literatura.
Título: A leitora incomum
Autora: Virginia Woolf
Tradução: Emanuela Siqueira
Editora: Arte e Letra
Páginas: 136
Compre no site da editora: A leitora incomum.
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[…] livros do que conseguimos ler, para justificar essa demora em ler Flush, mas a verdade é a que eu já falei aqui em outra oportunidade: amo os ensaios de Virginia Woolf, mas seus textos ficcionais me dão um pouco de […]