[RESENHA] O VÉU ERGUIDO, DE GEORGE ELIOT

Sinopse: “Publicada no mesmo ano do seu primeiro romance, Adam Bede, esta novela exibe algumas das virtudes que tornariam George Eliot famosa – rigor enérgico, introspecção, forte caracterização psicológica e moralização idealista. No entanto, esta obra é singular em comparação aos demais trabalhos da autora: foi a única em que usou uma narrativa em primeira pessoa e escreveu a respeito do sobrenatural, expoente do realismo que foi. A novela pertence à tradição vitoriana de histórias de terror, como Frankenstein (Mary Shelley) e O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde (O médico e monstro, de Robert Louis Stevenson). Latimer, de natureza sensível e pouco prática, dono de uma beleza feminina, é o filho mais novo de um banqueiro e vive à sombra do irmão mais velho, o exuberante Alfred. Aos 16 anos é mandado para Genebra para completar sua educação, que fazia parte de um roteiro pré-determinado da vida de rico que levaria, com o irmão no comando dos negócios. Latimer adoece,a estadia na Suíça é interrompida, e sua vida sofre uma reviravolta quando, convalescendo, ele começa a ter visões do futuro. Incapacitado, confuso, frágil, ainda assim Latimer tenta subverter seu destino vividamente vislumbrado.”

 

George Eliot (1819-1880) — pseudônimo de Mary Anne Evans, que optou por assinar suas obras no masculino para ser levada a sério,é uma autora inglesa muito prestigiada, mas infelizmente boa parte de seus livros não são reeditados há muito tempo no Brasil. Uma de suas histórias mais aclamadas, Midlemarch, está entre os maiores romances do século XIX e também na lista da BBC entre as 100 obras literárias que mudaram (ou ajudaram a moldar) o mundo. A autora é, portanto, leitura indispensável para literatos de plantão, especialmente para quem gosta de literatura inglesa.

 

Leia também: As escritoras que tiveram de usar pseudônimos masculinos – e agora serão lidas com seus nomes verdadeiros, da BBC Brasil.

 

No caso de alguma impossibilidade de começar pelos romances, O véu erguido é uma boa forma de conhecer a escrita de George Eliot. Trata-se de uma novela narrada em primeira pessoa, uma história de leitura bastante fluida e com elementos de terror e sobrenatural. Começamos pelo final, o qual o protagonista sabe que vai morrer, pois já teve uma visão deste momento. Sendo assim, ele relembra e conta a sua história, ou a parte mais significativa dela até o seu momento derradeiro.

Latimer é o filho mais novo de um banqueiro, mas não recebe muita atenção do pai no que se refere a sua formação como homem da sociedade. É um rapaz de constituição frágil, traços delicados e atormentado por visões — daí, talvez, o título do livro, a capacidade do protagonista de enxergar claramente o que está à frente, — o oposto de seu irmão mais velho, Alfred, um viril exemplar do sexo forte, o herdeiro perfeito.

Tudo muda quando Alfred morre e Latimer acaba assumindo o lugar de herdeiro, mesmo com seu jeito peculiar de ser. Inclusive, o jovem casa-se com a noiva do irmão, por quem era apaixonado e já tinha previsto que iria se casar. Bertha, a noiva, é alguém que desafia a capacidade de Latimer de estar sempre um passo a frente, de manter o véu erguido.

 

 

“O medo do veneno não pode contra a sensação da sede.” (p. 46)

 

“Não importa o quão vazio esteja o ádito, conquanto seja espesso o véu.” (p. 60)

 

O véu erguido foi uma grata surpresa, pois eu tinha uma ideia tola de que ler George Eliot seria difícil, mesmo tendo lido vários autores da época dela. Essa novela não tem nada de difícil e foi uma ótima leitura! Destaco o trabalho da editora Grua em publicar novelas de grandes autores, histórias não muito conhecidas no Brasil ou nunca antes publicadas em português, com qualidade e preço acessível. O véu erguido, ressalto mais uma vez, é um ótimo começo para conhecer uma das maiores autoras que a Inglaterra já teve.

 

 

 

Título: O véu erguido

Autor: George Eliot

Tradução: Lilian Jenkino

Editora: Grua Livros

Páginas: 88

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